A estreia de artistas e grupos digitais tem gerado comentários nos dois extremos da hallyu: por um lado temos pessoas já acostumadas a ver esse tipo de arte, a exemplo o Vocaloid, que existe desde o começo dos anos 2000, e por outro lado há quem defenda que essa produção virtual poderá arruinar a carreira de muitos artistas. Por isso, vamos entender qual é a ligação entre kpop e inteligência artificial.
Os shows de kpop e a inteligência artificial
O grupo IITERNITI, ou Eternity, fez sua estreia com o single “I’m Real” em 2021, e de lá para cá já lançou outros trabalhos e, inclusive, um show em outubro de 2023 em Seul contando com a interatividade do público presente que acompanhou sua performance através de mídia imersiva. Mas não foi a primeira vez que assistimos a um show virtual de kpop.
Também em 2021, o grupo da SM Entertainment, aespa, dividiu o palco da premiação de fim de ano, MAMA, com seus avatares virtuais. Foi assim que se desenrolaram, inclusive, muitos dos shows de kpop na pandemia, aproveitando ao máximo das tecnologias disponíveis para aproximar o público num momento em que isso não foi possível.
Na ocasião, os palcos eram preenchidos por telas que recebiam mensagens de fãs do mundo todo, e permitiam uma conexão verdadeira mesmo que à distância. E é justamente essa questão que tem sido levantada quando o assunto se aproxima dos artistas que são totalmente digitais. “Será que estaremos deixando o contato humano de lado?”.
Os grupos virtuais também são realidade
Adam é considerado o primeiro artista virtual da Coreia do Sul, criado pela Adamsoft e estreante de 1998! Seu dublador era o cantor Park Seong Cheol, que chegou a gravar dois álbuns completos. Como a tecnologia da época não era das mais avançadas, Adam foi ficando para trás.
Já o Eternity tem 11 integrantes que foram criadas a partir da tecnologia Deep Real AI de sua própria empresa, a Pulse9. Eles geraram 101 imagens a partir, até mesmo, de celebridades da Coreia do Sul, e fizeram combinações até chegarem nas onze mais adoradas pelo público.
Outros grupos e artistas virtuais mais citados são:
- PLAVE – grupo criado com captura de movimento;
- naevis – artista criada com IA generativa;
- MAVE: – grupo criado com aprendizado de máquina, deepfake e tecnologias 3D.
A princípio, os comentários nas redes sociais traziam preocupações relacionadas ao chamado “vale da estranheza”, que faz com que sejamos capazes de compreender o rosto e a atitude semelhante à humana, mas por não ser totalmente a mesma nos causa também um certo incômodo. A medida que as tecnologias avançam, a percepção do público também tem melhorado e se tornado mais positiva, nesse sentido.
Porém, ainda há críticas quanto ao espaço que esses artistas têm tomado, como se estivessem roubando o lugar de outros do mundo real. Outro ponto de vista poderia nos levar a pensar que, na realidade, eles estão criando um novo espaço na mídia.
Bang Si Hyuk, fundador da Big Hit Entertainment, disse em entrevista para a Billboard que não sabe “por quanto tempo os artistas humanos podem ser os únicos a satisfazer as necessidades e gostos do público”. A estreia positiva de naevis, primeira artista totalmente virtual da SM, pode ajudar a provar que há espaço para todas as manifestações artísticas.
Avatares para cada personagem
Outra realidade é quando se fala do uso da tecnologia sem substituir completamente um artista. Esse é o caso do PLAVE, que não é um grupo gerado por IA, mas sim feito a partir da captura de movimento de cinco pessoas que existem, mas permanecem no anonimato atrás de seus avatares. Yejun, Noah, Bamby, Eunho e Hamin fazem lives para conversar com o fandom e até já conquistaram seu first win, o que fortalece o interesse do público.
O próprio aespa, como dito antes, também traz uma espécie de alter ego de cada integrante no mundo virtual. Seus avatares, os æs, aparecem nos vídeo clipes e imagens promocionais desde a estreia do grupo, e são “seres independentes com cérebros de IA”, nas palavras de Lee Soo Man.
Outra expressão em forma de avatares foi a colaboração entre o Blackpink e o jogo PUBG Foram criadas versões digitais das quatro integrantes, que lançaram uma música exclusiva e também fizeram um show dentro da plataforma do game, como mostra o vídeo acima.
Outras tecnologias vão se ampliando e trazendo possibilidades que, antigamente, ficavam apenas nas mentes criativas de seus criadores, e agora ganham “vida” e complementam o kpop. Apesar das preocupações com relação ao espaço que essas produções com IA tomam serem relevantes, também compreendemos que elas não tomarão o lugar humano, e além disso ainda podem oferecer novos e diferentes trabalhos para diversas áreas.
O avanço da tecnologia é natural, mas deve ser utilizada com sabedoria e respeito. Por isso, entendemos que as manifestações do público podem ajudar a orientar as próximas decisões das grandes empresas, seguindo caminhos interessantes e justos para todos os envolvidos.