Há muito o que aprender com os personagens de kdramas sobre saúde mental, já que suas histórias podem nos fornecer um ponto de vista interessante sobre as nossas próprias vidas. Por isso, conversamos com a psicóloga Hyalana Bianchin, e recomendamos 5 enredos através de sua visão profissional e pessoal.
1. Médicos em Colapso (2024)
Essa é uma série romântica que acompanha o reencontro de dois colegas de escola na vida adulta. Ela, uma anestesista que sacrificou tudo pelos estudos. Ele, um cirurgião plástico cuja carreira promissora desmorona após um grave incidente profissional. E, embora se reencontrem no auge de suas crises pessoais, talvez esse tenha sido exatamente o momento certo.
Na trama, destacamos a trajetória da anestesista Ha Neul, que desde pequena viveu na pressão de ter que ser a melhor, e alcançar a perfeição. Porém, isso lhe custou aspectos básicos da vida, ao ponto dela mesmo não saber quais são suas comidas preferidas e o que gosta de fazer nas horas livres, por exemplo – sinais de um esgotamento profundo que culminaram em um colapso mental.
Para Hyalana, a série evidencia como muitos de nós somos moldadas(os) a seguir roteiros externos desde cedo, seja por expectativas familiares, culturais ou sociais, o que pode nos afastar de um senso genuíno de identidade. Ela diz que a saúde emocional exige espaço para sermos mais que um papel, e que quando algo, como o trabalho, se torna o único centro da vida, isso pode ser um alerta para um excesso que compromete o bem-estar.
2. Uma Dose Diária de Sol (2023)
Essa série também tem como tema central o ambiente hospitalar. Aqui, seguimos Jung Da Eun, uma enfermeira que troca sua residência para a ala psiquiátrica de um hospital universitário. No dia-a-dia nos deparamos, junto com ela, com diversas histórias complexas envolvendo diferentes transtornos mentais.
O público aclamou esse kdrama, principalmente por tratar de assuntos sérios com sensibilidade, sendo um avanço na desmistificação da saúde mental.
A psicóloga explica que, muitas vezes os profissionais da saúde desenvolvem repertórios potentes para cuidar dos outros, mas esquecem de si mesmos, já que o autocuidado pode ser visto como secundário ou até egoísta. Ela diz que é importante reconhecer as próprias dores como um ato de coragem, e que ainda vê que muitos profissionais não praticam esse autocuidado de forma consistente. “Precisamos normalizar o cuidado com quem cuida.”
3. Amanhã (2022)
“Amanhã” é uma série que trata de um tema delicado – a morte. Na trama acompanhamos ceifadores que tentam evitar suicídios, atuando em casos em que a ajuda emocional pode ser um sinônimo de uma segunda chance de viver. Apesar de misturar fantasia, sua mensagem é clara: mesmo quando pensamos que não há solução, há sempre quem lute para reescrever nosso destino.
Nas palavras da profissional, “falar sobre a morte, de forma responsável, preventiva e acolhedora é fundamental para que quem está sofrendo perceba que não está só, e que existem caminhos possíveis de ajuda. No Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada 45 minutos, e estima-se que 90% dos casos poderiam ser prevenidos com escuta, apoio e cuidado em saúde mental. O CVV oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo número 188.”
4. Tudo Bem Não Ser Normal (2020)
Nessa série, acompanhamos principalmente Ko Moon Young, uma escritora de livros infantojuvenis, e Moon Gang Tae, um enfermeiro em um hospital psiquiátrico. O enredo combina de maneira brilhante as histórias criadas por Moon Young com os acontecimentos e emoções que se desenrolam ao longo da trama. Além disso, a narrativa nos convida a refletir sobre diversos temas, mostrando que até contos de fadas podem ter seus espinhos.
No livro “O Menino Que Se Alimentava de Pesadelos”, apresentado na série, podemos interpretá-lo como uma fuga das dores e dos medos de uma criança. No entanto, ao evitar os traumas, corre-se o risco de comprometer o desenvolvimento emocional e a construção da própria identidade.
Hyalana nos diz que, enquanto estivermos vivos, sentiremos dor, e essa é uma premissa central da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Por isso é fundamental permitir que as pessoas desenvolvam habilidades para acolher suas experiências difíceis com flexibilidade psicológica. Para a psicóloga, enfrentar desafios, com suporte e presença, fortalece a resiliência e contribui para o crescimento emocional. “O equilíbrio saudável está em validar a dor sem deixar que ela impeça a pessoa de viver uma vida rica e significativa.”
5. It’s Okay, That’s Love (2014)
“It’s Okay, That’s Love” foi amplamente elogiada pela crítica por trazer temas poucos falados nas séries sul-coreanas no seu ano de lançamento, como transtornos mentais e estigmas sociais. O kdrama tem como foco central a relação entre Ji Hae Soo, uma psiquiatra que enfrenta dificuldades para lidar com suas próprias emoções, e Jang Jae Yeol, um escritor marcado por traumas não resolvidos de sua infância. Com uma reviravolta surpreendente, essa é, acima de tudo, uma série sobre cura e sobre o poder do amor.
A visão de Hyalana aqui é a de que, ao assistirmos a essas histórias, conseguimos nos identificar e usar a arte como um espaço seguro para sentir e refletir sobre emoções e experiências que muitas vezes evitamos. Além disso, ela destaca a importância das relações, sejam românticas, familiares ou de amizade, no processo de cura. “Somos seres biopsicossociais e, sem vínculos afetivos que promovam amor, acolhimento e vulnerabilidade, o cuidado com a saúde mental fica comprometido.”
Por isso, concluímos juntas que a representatividade em obras sobre saúde mental é fundamental, além do apoio pessoal e também profissional. Da nossa parte, lhe oferecemos esta lista com algumas músicas de kpop calmas que podem confortar o seu coração! ❤️